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domingo, 5 de setembro de 2010

Visão Cósmica da Educação - Parte 1

Universidade de Shamballa
VISÃO CÓSMICA DA EDUCAÇÃO
A Educação na Nova Era


NOTA DOMINANTE:
A raça humana como um todo encontra-se agora na entrada do Caminho do Discipulado. O seu olhar contempla a visão do futuro, seja a visão da alma, uma visão de um melhor estilo de vida, de alívio na situação econômica, ou de melhor relacionamento inter-racial. É lamentavelmente verdade que esta visão seja frequentemente distorcida, orientada materialmente ou parcialmente percebida; mas, de uma forma ou de outra, existe hoje na massa do povo uma apreciável compreensão do “novo e desejável” – fato até agora desconhecido. No passado era o intelectual ou a elite quem tinha o privilégio de possuir a visão. Hoje, quem a possui é a massa dos homens. Portanto, a humanidade como um todo está preparada para um processo geral de alinhamento, e esta é a razão espiritual que subjaz por trás da guerra mundial. A “tesoura afiada do sofrimento deve separar o real do irreal; o açoite da dor deve despertar a alma adormecida para o primor da vida; o trauma do extirpar as raízes da vida do terreno do desejo egoísta deve ser suportado, e então o homem se libertará”. Assim reza o Velho Comentário numa de suas estrofes mais místicas. Assim é assinalado profeticamente o fim da Raça Ariana – não um fim no sentido de culminação, mas o encerramento de um ciclo de aperfeiçoamento mental, preparatório para outro onde a mente será aplicada corretamente como instrumento de alinhamento, como farol da alma e controladora da personalidade. (Os Raios e as Iniciações)

PREFÁCIO


O teor deste texto, Visão Cósmica da Educação – A Educação na Nova Era, é denso e como tal deve ser lido e estudado de forma reflexiva. Não há nele técnica ou método de ensino, mas postulados a partir dos quais devemos formular as nossas técnicas e métodos.

Pede-se ao leitor que faça a sua pesquisa com mente aberta, tendo como motor a boa vontade de extrair daí algo que possa contribuir para o objetivo do projeto.

Na Apresentação, analisamos um panorama da situação mundial da criança e do adolescente, com estatísticas e informações de órgãos das Nações Unidas, como a UNESCO e a UNICEF, onde são comentadas as falhas e erros do atual processo mundial, nos preparando para os desafios propostos. Os Pensamentos Introdutórios norteiam a nossa ação para o item seguinte. A longa exposição de Valores e Conceitos, e também o que consta nas Proposições, deve-se à superficialidade do atual enfoque dado ao assunto abordado, visando a necessidade premente de conhecimento e avanço neste campo de estudo levado para o âmago da educação. Aqui o preceito délfico ganha dimensões novas, ao impor o conhecimento de nós mesmos. Na Ação no Presente, lança-se alguma luz sobre o que pode ser feito para o estabelecimento imediato de unidades de ensino aproveitando-se os métodos atuais mais próximos das ideias expostas. A Ação no Futuro é resultado da ação no presente, e se baseia na formação do professor/educador que irá emergindo no seio dos estudantes, formando os chamados grupos-semente, pilares sobre os quais se assentarão as bases futuras.

Tudo isso está estribado na constatação de que “a natureza trabalha sem vazios e assim é, mesmo quando – do ponto de vista da ciência acadêmica – haja um hiato aparente entre os fatos e as espécies conhecidas”. Deparamos, na consciência, com regiões e aspectos desconhecidos e ainda não explorados, formando aparentes hiatos ou vazios que precisam ser relacionados com outras regiões e aspectos da natureza humana, notadamente com sua natureza divina. É para esse campo ainda não trabalhado que se direciona o nosso esforço, e é na mais tenra idade onde devemos começar a nossa jornada.

“As aspirações na vida vêm em forma de crianças”. (Rabindranath Tagore, Fireflies)

“Sabemos como encontrar pérolas no interior das ostras, ouro nas montanhas e carvão nas entranhas da terra, mas não somos conscientes dos germes espirituais, as criações nebulosas que a criança esconde no seu interior quando entra no mundo para renovar a humanidade”. (Maria Montessori, The Absorbent Mind)


“A criança não é um vazio receptivo esperando ser preenchido com nossa sabedoria”. (Idem)

“A natureza trabalha sem vazios e assim é, mesmo quando – do ponto de vista da ciência acadêmica – haja um hiato aparente entre os fatos e as espécies conhecidas”. (Alice A. Bailey, Educação na Nova Era)

APRESENTAÇÃO

Enunciados-Chave:


A educação é uma empresa profundamente espiritual. Concerne ao homem na sua totalidade e isso inclui o seu espírito divino. (Alice A. Bailey, Problemas da Humanidade)

Devemos desenvolver as novas atitudes e técnicas que equiparão a criança para uma maneira completa de viver, tornando-a verdadeiramente humana, um membro construtivo e criativo da família humana. A melhor parte de tudo que passou deve ser preservada, mas deveria ser preservada somente como as bases de um sistema melhor e de um enfoque mais sábio do objetivo da cidadania mundial. (Idem)

Toda a tendência do presente empenho em avançar, que pode ser percebido tão marcadamente na humanidade, é capacitá-la a adquirir conhecimento, transmutá-lo em sabedoria pela ajuda do entendimento e, desse modo, tornar-se “completamente iluminada”. A iluminação é a meta maior da educação. (Alice A. Bailey, Educação na Nova Era)


As nossas crianças são o nosso futuro. O problema da educação e a difícil situação das crianças do mundo são, portanto, as preocupações mais urgentes às quais a humanidade enfrenta hoje. Como Alice Bailey escreve nos Problemas da Humanidade, “O que fazemos com elas e para elas é de grande importância em suas implicações. Nossa responsabilidade é grande e nossa oportunidade única”. Na nossa encruzilhada atual, temos a oportunidade de integrar o melhor de nossos processos educativos do passado com essas novas tendências holísticas e espirituais que refletem como nunca a nossa humanidade em evolução.

Atualmente estamos nos tornando cada vez mais conscientes do fato da Humanidade Una e da interconexão de toda a vida no nosso planeta. Entretanto, basta ver os noticiários para saber que grande parte do desenvolvimento humano no mundo continua sendo desigual e não reflete a consciência da Humanidade Una ou da natureza interdependente de toda a vida do nosso planeta. Nossos educadores, portanto, enfrentam três desafios principais:

1 – Prover as necessidades das crianças e dos jovens, dando-lhes uma sensação de segurança e dos princípios básicos de uma educação que seja relevante com respeito à sua sobrevivência e bem-estar nas suas circunstâncias imediatas.

2 – Desenvolver a nova educação que permitirá aos jovens alcançar seu potencial individual e fazer frente à vida como cidadãos iluminados do mundo, a base para converterem-se em homens e mulheres reflexivos, integrados, criativos e inclusivos.

3 – Desenvolver cidadãos do mundo conscientes da sua herança espiritual e, portanto, capazes de inaugurar uma nova civilização baseada na rica diversidade de culturas existentes, reconhecendo, por sua vez, o destino espiritual da Humanidade Una.


Como veremos mais adiante, o termo educação é utilizado no seu sentido mais amplo, envolvendo não somente a educação escolar, mas também as relações lar-família e o entorno comunitário. Em cada um destes setores é aparente que ainda não estamos utilizando métodos educativos que vão nos permitir viver como cidadãos íntegros e construtivos.

Apresentamos um quadro geral, oferecendo sugestões sobre os princípios e objetivos e uma breve menção sobre algumas das numerosas áreas positivas que estão surgindo agora, no campo da educação, iniciativas pioneiras para satisfazer as necessidades educacionais das crianças e dos jovens.

Os programas e problemas educativos específicos devem ser encarados no contexto das necessidades globais, e o educador, como qualquer outra pessoa, necessita “atuar localmente, mas pensar globalmente”. Há certos objetivos educativos que são os mesmos para todos os povos e, portanto, é possível construir com olhares na universalidade da educação, uma universalidade que reflita a unidade espiritual subjacente a todas as pessoas em todas as partes.

Educadores iluminados de todas as partes estão tentando introduzir mudanças pioneiras em planos de estudos e métodos de ensinamento que despertem na criança a consciência de que ela forma parte de uma família global, e aprofundem também a sua compreensão de si mesma, de outras culturas e de outros povos. Essas qualidades e características podem ser vistas refletidas nos programas que enfatizam, por exemplo, uma educação para o entendimento internacional, uma educação do meio ambiente, uma educação concernente ao desenvolvimento, uma educação concernente aos direitos humanos, uma educação concernente à paz, uma educação holística e global.

Quando contempladas na sua totalidade, essas formas progressivas de educação da “nova era”, conhecidas sob vários termos, têm três características fundamentais: requerem o reconhecimento da totalidade do ser humano, incluindo sua dimensão ética, interior ou espiritual; postulam a necessidade de que os estudantes sejam conscientes do planeta como um todo, e centram a atenção na interconexão de toda a vida e na interdependência de todos os sistemas. Fazem um chamamento ao entendimento e exploração mais profunda e exaustiva do mundo interior, subjetivo, do ser humano, do ambiente exterior tangível/objetivo, e das relações conexivas e interdependentes entre todos. As dimensões interna e externa – ambas reconhecidas como relacionadas, e igualmente divinas – são merecedoras de compreensão e desenvolvimento.

O papel dos educadores é de importância central para esta nova educação. O preceito eterno de que ensinamos mais com o exemplo do que com a teoria é especialmente aplicável aos nossos educadores. Devido a que os professores passam tanto tempo com as crianças e os jovens, é imprescindível que estejam livres de preconceitos, que eles mesmos tenham um sentido de cidadania mundial e que reflitam atitudes sãs e construtivas. É importante que os professores sejam humanitários e amorosos e que sejam capazes de criar a atmosfera correta na qual a criança possa aprender e crescer livremente. Um entendimento dos fundamentos da psicologia poderia também ser considerado como um imperativo para que os professores pudessem realizar mais plenamente seu papel como educadores: ajudando a extrair dos estudantes seu potencial mais elevado, ao mesmo tempo que ensinando-os a trabalhar com e a superar suas debilidades e limitações.

O princípio dos anos 90 contemplou uma gigantesca onda de entusiasmo e esperança sobre a mudança de atitudes para com as crianças e seus direitos e necessidades, especialmente em relação com a educação. Esse fenômeno alentador é refletido no trabalho das Nações Unidas ao produzir três acontecimentos globais de grande importância: A Conferência Mundial Sobre Educação Para Todos, a ratificação da Convenção sobre os Direitos da Criança, e a Cúpula Mundial da Infância.

A importância da atual encruzilhada não deve ser subestimada. Grande parte de nossa forma de vida, que evoluiu durante os últimos dois mil anos da era de Peixes e que se encontra agora entrincheirada nos nossos hábitos de comportamento, sentimento e pensamento, geralmente adquiridos inconscientemente, se contradiz com os valores e oportunidades emergentes na entrante era de Aquário. Enquanto o objetivo do passado era produzir um indivíduo “pensante”, o objetivo do futuro é produzir pessoas verdadeiramente integradas, que possam “pensar com seus corações e sentir com suas cabeças”. A cooperação, a compaixão, e o amor-sabedoria devem ocupar o lugar das até agora predominantes e valorizadas qualidades de competitividade, autoafirmação, e separatividade. Embora essas últimas qualidades tenham tido um papel útil, conduzindo-nos até o nosso atual ponto evolutivo, agora devemos dar prioridade às atitudes e compreensões mais inclusivas e espirituais.

Nossos sistemas educativos devem, portanto, abarcar uma nova visão e meta. O crescente reconhecimento de que a dependência das drogas, a delinquência e a agitação generalizada, tão visíveis na nossa sociedade contemporânea provêm tanto da pobreza material quanto espiritual, estão nos conduzindo, também, a um novo entendimento do que constitui um sistema educativo adequado. Estamos reconhecendo que o problema da educação não é mais somente uma questão de alfabetizar e de transmitir um conjunto de conhecimentos objetivos. É também o problema de ser capaz de apresentar a hipótese da alma – o fator interior dentro de cada ser humano que produz “o bom, o verdadeiro e o belo”. A expressão criativa e o esforço humanitário serão então reconhecidos como o resultado lógico e científico dos procedimentos educativos aplicados especificamente.

Embora existam atualmente muitas pessoas que estão reconhecendo esse duplo desafio de melhorar a situação crítica das crianças e de melhorar o campo da educação, intentando entrelaçar as necessidades do passado e as do futuro, deve ser reconhecido que também é vital para cada um de nós, individualmente, refletir sobre a solução destes problemas. Uma educação que ilumine não está estruturada somente para alguns poucos no mundo, mas para todos. A capacidade de ser educado e iluminado encontra-se em cada ser humano. Assim também, cada indivíduo é, de alguma maneira, um educador – capaz de invocar e evocar o mais elevado daqueles com quem ele ou ela entra em contato. Enquanto alguns recebem o chamado vocacional de uma vida de ensinamento, todos nós temos a responsabilidade das corretas relações humanas e podemos compartilhar nossa luz e boa vontade com outros. Cada um de nós pode, também, ajudar na construção de formas mentais positivas e iluminadas, ajudando a criar uma opinião pública iluminada na qual os líderes mundiais podem se basear. Cada mente amorosa, cada coração reflexivo e cada mão capacitada são necessárias.

A Universidade de Shamballa insere-se neste contexto como um organismo que abarca, tão abrangentemente quanto possível, o universo educacional da criança e do jovem adolescente. Almeja alcançar a formação do homem integral ou personalidade essencial, sintetizando nele a liberdade plena da unidade inter-relacionada com o grupo e, consequentemente, com a humanidade e com a totalidade do Todo. Isto implica um ser coordenado, integrado e alinhado com todos os seus aspectos e partes componentes num todo orgânico, ao qual se dá o nome de “ser humano”, havendo de se comportar como cópia fiel de sua fonte de origem, que desabrocha rapidamente e se faz sentir crescentemente na vida diária.

Liberte a sua imaginação por uns instantes, imaginando a situação do mundo onde a maioria dos seres humanos está ocupada com o bem dos outros e não com os seus próprios fins egoístas. (Alice A. Bailey, Discipulado na Nova Era vol I)


A forma correta de educação consiste em entender a criança tal qual ela é, sem impor-lhe um ideal como pensamos que deveria ser. Fechá-la dentro do marco de um ideal é animá-la a se conformar, o que gera medo e causa-lhe um constante conflito entre o que é e o que deveria ser; e todos os conflitos internos têm sua manifestação externa na sociedade. Os ideais constituem, de fato, uma ameaça à nossa compreensão da criança e à compreensão da criança de si mesma.

Um pai que realmente deseja ajudar seu filho não o contempla através da trama de um ideal. Se ama a criança, a observa, estuda suas tendências, seus estados de ânimo e suas peculiaridades. Somente quando alguém não sente amor pela criança é que lhe impõe um ideal, tentando assim realizar nela as suas ambições, querendo que se converta nisso ou naquilo. Se alguém não ama o ideal, mas a criança, então existe uma possibilidade de ajudá-la a compreender a si mesma tal e qual ela é. (J. Krishnamurti, Education and the Significance of Life)

Primeiro, e acima de tudo o mais, o esforço deve ser feito para proporcionar uma atmosfera onde certas qualidades possam florescer e emergir. Esta atmosfera inclui o seguinte:

1) Uma atmosfera de amor, onde o medo esteja afastado e a criança perceba que não há razão para timidez, retraimento ou prevenção...

2) Uma atmosfera de paciência, na qual a criança possa se tornar, normal e naturalmente, um buscador da luz do conhecimento... onde nunca haja ideia de rapidez ou pressa...

3) Uma atmosfera de atividade ordenada, onde a criança possa aprender os primeiros rudimentos de responsabilidade...

4) Uma atmosfera de compreensão, na qual a criança tenha sempre a certeza de que as razões e os motivos de suas ações serão reconhecidos... (Alice A. Bailey, Educação na Nova Era)

As Falhas do Sistema Atual.


Neste princípio do Século XXI, não podemos nos referir às falhas do sistema escolar sem reconhecer que todas as principais instituições da sociedade estão falhando. As crises são a experiência comum compartilhada por nossos sistemas de governo, igreja, família e educação. As instituições que antigamente previam uma aparente ordem, estabilidade e segurança, não atendem mais as nossas necessidades e atuais expectativas. Não são mais adequadas para a nossa nova percepção e maturidade. Assim como não podemos pôr vinho novo em odre velho, também nossos filhos se tornam amadurecidos para seus jogos e roupas favoritas, e a consciência da humanidade que desperta, está se tornando amadurecida para os antiquados sistemas políticos, religiosos e sócio-econômicos. Ninguém é tão afetado por essas falhas como nossas crianças – os mais vulneráveis e inocentes dentre nós.

Ao proclamar o princípio de “Prioridade” para as crianças, a Declaração da Cúpula Mundial da Infância de 1990 realçou as dificuldades que as crianças de todo o mundo enfrentam. Cada dia, inumeráveis crianças do mundo sofrem como vítimas da guerra e da violência; como vítimas da discriminação racial, das agressões, das ocupações e anexações estrangeiras; como refugiadas e crianças abandonadas obrigadas a abandonar seus lares e suas raízes; como vítimas do abandono, a crueldade e a exploração. Cada dia milhões de crianças são açoitadas pela pobreza e a crise econômica; pela fome e falta de alojamento, pela epidemia, analfabetismo e pela degradação do meio ambiente. Cada dia, 40.000 crianças morrem de fome e de doenças, de falta de água potável e de insalubridade e dos efeitos das drogas.

A difícil situação na qual se encontram as crianças nos conflitos armados é uma questão de urgência total. Esta crise tem chamado a atenção do mundo pela escalada da violência em certas áreas nas quais tem sido recusado às crianças o acesso aos serviços de saúde, anteriormente garantidos. Na Conferência Mundial das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos (Junho de 1993), a UNICEF informou que mais de 1,5 milhões de crianças pereceram em conflitos armados durante a década de 1980, e quatro vezes esta cifra foi mutilada. Cerca de cinco milhões se encontram em campos de refugiados esperando o término das guerras, e outras doze milhões perderam seus lares. Números incontáveis se encontram traumatizadas psicologicamente devido sua exposição às brutalidades da guerra, e isso não é mais que a ponta do “iceberg”.

Quantidades muito maiores de crianças são vítimas indiretas da guerra, e seu aumento tem sido observado por fechamento ou destruição de escolas e hospitais, a interrupção da produção de alimentos e a perda de serviços tão elementares como a imunização. Nos países em vias de desenvolvimento, onde tem ocorrido a grande maioria das guerras desde 1945, esses acontecimentos vêm acompanhados de pobreza, secas e doenças.

As crianças abandonadas, obrigadas a se converterem em “crianças de rua”, lutam nas suas próprias guerras diárias. De cidades da América do Norte e do Sul, ao continente africano, à antiga União Soviética e ao extremo oriente, as crianças de rua do mundo abarcam todas as barreiras raciais e econômicas, mas um número crescente delas deixam seus lares voluntariamente depois de terem decidido que as privações e dificuldades das ruas são preferíveis à violência e ao abuso sexual que com frequência se encontram nas suas próprias casas.

As falhas do sistema escolar devem, portanto, ser consideradas dentro do contexto das falhas dos aspectos restantes da vida. Devido a que tudo que toca a vida de uma criança afeta a sua capacidade e o seu desejo de aprender, devemos reconhecer que a melhora do sistema escolar deve ser feita a par da melhora de todos os aspectos da vida ao repercutirem no bem-estar da criança. O princípio de “Prioridade” se baseia nessa mesma perspectiva. É um intento para proteger as crianças, na medida do possível, dos erros, equívocos, excessos e vicissitudes do mundo adulto. É um compromisso para conseguir que as decisões sociais e pessoais se baseiem antes de tudo na proteção e no bem-estar da infância. Desde que esse princípio foi enunciado pela primeira vez em 1990, foram feitos progressos suficientes para que a UNICEF, no seu Estado das Crianças do Mundo de 1993, proclamasse os anos 90 como a “era do interesse”, como contrapartida à passada “era de abandono”. O entusiasmo do informe e do otimismo demonstrado a respeito da nossa capacidade de resolver os numerosos problemas aos quais enfrentam as crianças de todo o mundo se baseia no reconhecimento de que o progresso observado ao longo dos primeiros anos da década de 90 foi conseguido ali onde existia um compromisso e uma vontade política por trás dos objetivos formulados.

Aquele reconhecimento dos anos 90 como “era do interesse” nos trouxe uma esperança muito necessária. Centrar a atenção sobre o progresso realizado até agora confirma o antigo princípio que a energia, certamente, segue o pensamento. Aferrando-nos à visão e energizando-a com nosso compromisso e vontade, conseguiremos realizar esta visão, assegurando um mundo melhor para todos.

Ter uma compreensão dos problemas inerentes a nossos sistemas passados nos ajudará a compreender melhor as mudanças que são necessárias. Assim, assinalamos as seguintes passagens dos livros “Problemas da Humanidade” e “Educação na Nova Era”. Elas proporcionam uma percepção das razões pelas quais nosso atual sistema de educação já não é suficiente.

“Falando em termos gerais... a educação tem sido principalmente competitiva, nacionalista e, portanto, separatista. Tem preparado a criança para considerar os valores materiais como de importância fundamental, a crer que sua nação específica é também de importância fundamental e que qualquer outra nação é secundária; tem alimentado o orgulho e fomentado a crença que ela, seu grupo e sua nação são infinitamente superiores ao resto das pessoas e dos povos. Consequentemente, é-lhe ensinada a ser uma pessoa unilateral, com seus valores mundiais mal ajustados e com suas atitudes perante a vida caracterizadas por parcialidades e prejulgamentos... Não é acentuada a cidadania mundial; sua responsabilidade para com seus congêneres é sistematicamente ignorada; sua memória se desenvolve mediante a transmissão de dados desconexos – a grande maioria dos quais não são aplicáveis à sua vida diária”.(Problemas da Humanidade)

“No ensino da história, por exemplo... a primeira data histórica que geralmente a média das crianças britânicas recorda é “Guilherme, o Conquistador, 1066”. A criança norte-americana recorda o desembarque dos Pais Peregrinos e o gradual despojar dos legítimos habitantes do país e, talvez, o incidente do chá (tea party), em Boston. Os heróis da história são todos guerreiros – Alexandre Magno, Júlio César, Átila o Rei dos Hunos, Ricardo Coração de Leão, Napoleão, George Washington e muitos outros. A geografia é, na sua maior parte, a história com outro formato, mas apresentada de uma forma similar – uma história de descobrimentos, investigação e rapinagem, com frequência seguida de um tratamento iníquo e cruel aos habitantes das terras descobertas. A cobiça, a ambição, a crueldade e o orgulho são as notas chaves do nosso ensino da história e da geografia... Não seria possível construir nossa teoria da história sobre as grandes e nobres idéias que condicionaram as nações e fizeram delas o que são, e acentuar a criatividade que as distinguiram todas? Não podemos apresentar mais efetivamente as grandes épocas culturais que – aparecendo repentinamente nalguma nação – enriqueceram o mundo inteiro e deram à humanidade sua literatura, sua arte e sua visão?”(Idem)

PENSAMENTOS INTRODUTÓRIOS


“O Senhor Buda disse que não devemos acreditar naquilo que é dito simplesmente por ser dito; nem nas tradições que vêm da antiguidade; nem em rumores, como tal; nem nos escritos dos sábios porque eles os escreveram; nem em fantasias que imaginamos foram inspiradas por um deva (isto é, por uma suposta inspiração espiritual); nem em inferências a partir de suposições casuais que fizemos; nem porque parece uma necessidade analógica; nem na mera autoridade de nossos professores e mestres. Mas devemos acreditar quando os textos, a doutrina, ou a fala são corroborados por nossa própria razão e consciência. “Por isso”, ele concluiu, “ensinei-lhes a não acreditar simplesmente porque ouviram, mas quando vocês acreditarem na sua consciência, então ajam acorde e abundantemente”. (H. P. Blavatsky, A Doutrina Secreta, vol III, pág.401)

“Tudo que pode ser dito será dito, apesar de tudo, será apenas parte das afirmações da grande Verdade velada, e que deve ser oferecida ao estudante como simplesmente uma hipótese de trabalho e uma explanação sugestiva. Para o estudante de mente aberta e para o homem que mantém na sua mente a lembrança que a verdade é progressivamente revelada, tornar-se-á claro que a expressão plena da verdade, possível em qualquer momento, será notada como simples fragmento do todo, e mais tarde ainda reconhecida como sendo apenas parte de um fato e sendo, portanto, uma distorção do real.” (Alice A. Bailey , Um Tratado Sobre o Fogo Cósmico, prefácio)

“Não interessa quanto sabemos acerca de qualquer assunto, sempre há mais para descobrir. Uma das coisas curiosas da ciência moderna é que para cada novo descobrimento, e para cada nova formulação do conhecimento científico, imediatamente aparece uma nova série completa de problemas e perguntas não resolvidas abrindo imediatamente novos campos de investigação. Se a aquisição de conhecimento tornar rombo o gume do constante questionamento, nós estamos então em perigo de sucumbir num ensinamento autoritário e na limitação da mente por um modo único de pensar. Devemos estar conscientes da falibilidade de um ensino autoritário. O ensino pode até estar correto, mas nós não sabemos por que ou como ele é correto.” (Escola Arcana, Luz no Caminho, 1)

“Então se compreenderá por que em todos os sistemas de verdadeiro treinamento, é colocada ênfase sobre o reto pensar, o desejo amoroso e o viver limpo e puro. Somente assim, o trabalho criador pode ser realizado sem perigo, pode fazer a forma mental descer à objetividade e ser um agente construtivo no plano da existência humana.” (Alice A. Bailey, Um Tratado Sobre Magia Branca, pág. 128)

“Homem, conhece-te a ti mesmo.” (Injunção Délfica)

“... o conhecimento de si mesmo permite adquirir a ciência, fim e razão de ser da vida, base de todo o real valor; e este poderio, elevando o homem laborioso que o pode adquirir, incita-o a ficar numa simplicidade modesta e nobre, virtude eminente dos espíritos superiores. Era um axioma que os mestres repetiam aos seus discípulos, e pelo qual lhes indicavam o único meio para atingir o saber supremo: “Se quereis conhecer a sabedoria, diziam-lhes, conhecei-vos bem a vós mesmos e conhecê-la-eis.” (Fulcanelli, As Mansões Filosofais, pág. 295)

“Hoje em dia, a média das crianças é, nos cinco ou seis primeiros anos de vida, a vítima da ignorância ou do egoísmo ou falta de interesse dos seus pais. Ela é mantida quieta e fora do caminho porque seus pais estão muito ocupados com seus próprios assuntos, para lhe dar a devida atenção... Na escola, ela fica, frequentemente, sob os cuidados de alguma pessoa jovem, ignorante, apesar de bem intencionada, cuja tarefa é ensinar-lhe os rudimentos da civilização... Mais tarde, a partir dos onze anos, uma orientação foi efetuada, uma atitude (geralmente defensiva e, por isso, inibidora) foi criada, uma forma superficial de comportamento foi reforçada ou imposta, mas não baseada na sinceridade dos relacionamentos verdadeiros. O ser genuíno que é encontrado em cada criança – expansivo, espontâneo e bem intencionado... – foi, consequentemente, mantido à distância, fora da vista, e ocultou-se sob uma concha exterior que o hábito e a educação impuseram. O dano causado às crianças durante os anos plasmáveis e flexíveis é geralmente irremediável e responsável por muito da dor e do sofrimento, mais tarde na vida”. (Educação na Nova Era)

“A necessidade fundamental com que hoje se defronta o mundo educacional é a de se relacionar o processo de desenvolvimento da mentalidade humana até o mundo do significado e não ao mundo do fenômeno objetivo. Até que o alvo da educação seja orientar um homem para o seu mundo interior de realidades, teremos a mal colocada ênfase do tempo presente”. (Idem)

VALORES E CONCEITOS


Palmilharemos um caminho de valores, conceitos e teorias que nos familiarizarão com aquilo que jaz por trás da trama da vida e que é a base da manifestação de toda a existência.

Tornar-se-á evidente que esses valores, conceitos e arcabouço teórico não se prestam em si mesmos ao magno esforço educacional proposto, mas emergem deles as proposições que colocam os alicerces do edifício onde se abrigarão os postulados e o pano de fundo sobre os quais serão construídas e montadas as peças necessárias e adequadas para tanto.

Veremos, inicialmente nestes Valores e Conceitos e no item sexto a seguir, que fazemos parte de um todo, e a nossa coordenação, integração e alinhamento com esta totalidade nos leva ao portal de entrada de um reino, uma dimensão e um estado de ser que é conhecido internamente, ou subjetivamente. Esse reino, esse estado de ser, tem de ser trabalhado e exteriorizado no mundo objetivo da vida e, ao se manifestar, produzirá os requeridos e desejados efeitos de sua ação.

Quatro postulados fundamentais norteiam essas ideias e são apresentados como uma hipótese merecedora de atenção e experiência de trabalho.

1 – Primeiro, que existe no nosso universo manifestado a expressão de uma Energia ou Vida, que é a causa responsável pelas diversas formas e pela vasta hierarquia de seres sensíveis que compõem a totalidade de tudo o que é. Esta é a teoria hilozoística. Uma vida penetra todas as formas e aquelas formas são a expressão, no tempo e no espaço, da energia central do universo. A vida em manifestação produz existência e ser. É a causa raiz, por isso, da dualidade. Esta dualidade que é vista quando a objetividade está presente, e que desaparece quando o aspecto da forma desaparece, é coberta por muitos termos, dos quais, para maior clareza, os mais usuais poderiam ser aqui reproduzidos: Espírito/Matéria; Vida/Forma; Pai/Mãe; Positivo/Negativo; Trevas/Luz.

2 – O segundo postulado emerge do primeiro e estabelece que a Vida una, manifestando-se através da matéria, produz um terceiro fator que é a consciência. Esta consciência, que é o resultado da união dos dois pólos do espírito e da matéria, é a alma de todas as coisas; ela permeia toda substância ou energia objetiva; ela jaz sob todas as formas, seja a forma daquela unidade de energia a que nós denominamos átomo, ou a forma do homem, de um planeta, ou de um sistema solar. Esta é a Teoria da Autodeterminação, ou o ensinamento de que todas as vidas das quais a vida una é formada, cada uma na sua esfera e no seu estado de ser, se tornam, por assim dizer, apoiadas na matéria e assumem formas onde quer que seu especial estado específico de consciência possa ser compreendido e sua vibração estabilizada; assim podem ser conhecidas como existências. Assim novamente a vida una se torna uma entidade estabilizada e consciente por intermédio do sistema solar e é essencialmente, por isso, a totalidade das energias, de todos os estados de consciência e de todas as formas existentes. O homogêneo se torna heterogêneo e, contudo, permanece uma unidade; o uno manifesta-se na diversidade e, no entanto fica inalterado; a unidade central é conhecida no tempo e no espaço como composta e diferenciada e, no entanto quando o tempo e o espaço não existem (sendo apenas estados de consciência), somente a unidade permanecerá e somente o espírito persistirá, mais uma ação vibratória aumentada, mais a capacidade para uma intensificação da luz quando novamente o ciclo da manifestação voltar.

Dentro da pulsação vibratória da Vida una que se manifesta, todas as vidas menores repetem o processo de ser – Deuses, anjos, os homens e as miríades de vidas que se expressam através das formas dos reinos da natureza e das atividades do processo evolutivo. Tudo se torna autocentrado e autodeterminado.

3 – O terceiro postulado básico é aquele que o objeto para o qual a vida ganha forma e o propósito do ser manifestado é o desdobramento da consciência, ou revelação da alma. Isto poderia ser chamado a Teoria da Evolução da Luz. Quando é compreendido que mesmo o cientista moderno diz que luz e matéria são termos sinônimos, torna-se aparente que através da interação dos pólos e através da fricção dos pares de opostos, a luz resplandece. Verifica-se que o objetivo da evolução é uma série gradual de demonstração de luz. Velada e oculta por cada forma está a luz. À medida que a evolução prossegue, a matéria se torna de maneira crescente um melhor condutor da luz, assim demonstrando a precisão do que o Cristo estatuiu: “Eu Sou a Luz do Mundo”.

4 – O quarto postulado consiste na afirmação de que todas as vidas se manifestam ciclicamente. Esta é a Teoria do Renascimento, ou da reencarnação, a demonstração da lei da periodicidade.

Tais são as grandes verdades subjacentes que formam os fundamentos da Sabedoria Eterna – a existência da vida e o desenvolvimento da consciência através da utilização cíclica da forma.

Para o nosso propósito, a ênfase é dada à pequena vida, ao homem “feito à imagem de Deus”, o qual, através do método do renascimento expande sua consciência até que ela floresça como a alma perfeita, cuja natureza é luz e cuja compreensão é aquela de uma identidade autoconsciente. Esta unidade desenvolvida deve ser finalmente absorvida, com plena e inteligente participação, na consciência maior da qual faz parte.

Contudo, a alma continua sendo uma quantidade desconhecida. Ela não tem um lugar verdadeiro nas teorias dos investigadores acadêmicos e científicos. Ela não está provada e é considerada mesmo pelos acadêmicos mais arejados como uma hipótese provável, mas ainda aguardando demonstração. Ela não é aceita como um fato pela consciência da raça. Somente dois grupos de pessoas aceitam-na como um fato; um é a pessoa ingênua, infantil, de inclinação religiosa. O outro é o grupo pequeno, mas, em firme crescimento, dos Conhecedores de Deus e da realidade, que sabem que a alma é um fato na sua própria existência, mas não são capazes de provar sua existência satisfatoriamente ao homem que somente admite aquilo que a mente concreta pode aprender, analisar, criticar e testar.

Fonte: http://portaldosanjos.ning.com/group/mestredjwalkul/forum/topic/show?id=3406316%3ATopic%3A295674&xgs=1&xg_source=msg_share_topic

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