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domingo, 26 de julho de 2009

A Consciencia Índigo: O Futuro Presente

"Tomei emprestado o título do livro que estou traduzindo para o português (A Consciencia Índigo: O Futuro Presente), e que estarei disponibilizando em breve para download, para ilustrar esta reportagem no mínimo jubilosa." Sandra Ferris


Garota doa US$ 10 mil em instrumentos

Giulia Olsson criou uma ONG e vendeu limonada para arrecadar dinheiro e comprar instrumentos musicais para doar. E ela só tem 14 anos...

Rodrigo Turrer



MENINA ATIVA
Giulia na favela de Heliópolis, em São Paulo (acima), e dando aulas às crianças do Instituto Baccarelli (abaixo).

Giulia Olsson tem uma obstinação incomum para sua quase década e meia de vida. Estudante do ensino médio na Flórida, nos Estados Unidos, para onde se mudou em 2001 com os pais e dois irmãos, todos brasileiros como ela, Giulia se acostumou a praticar ações sociais voluntárias. “Na escola americana eles incentivam a fazer trabalhos e projetos comunitários, atividades em asilos, ajudar no parque”, diz a adolescente. “Mas para mim era pouco, queria fazer algo melhor.” Foi quando Giulia decidiu fazer mais que seus colegas: “Nas férias de verão do ano passado, pensei em doar instrumentos e ensinar música para crianças”. Sim, porque antes de se descobrir apaixonada por ajudar os outros, Giulia se apaixonou pela música. “Tinha 8 anos quando comecei a estudar violino e percebi que a música transforma a vida das pessoas. Eu quero passar isso para as crianças que não têm as mesmas oportunidades.” Ela estava nos EUA, mas tinha em mente as crianças carentes do Brasil.

O discurso pode parecer pronto, embalado, e soar falso para os céticos. Mas os fatos provam a boa vontade e a energia precoces da garota. Quando decidiu transformar a vida de crianças brasileiras por meio da música, Giulia organizou suas horas vagas para arrecadar dinheiro para seu projeto – e olha que vaga é o mais difícil de encontrar na agenda de Giulia. “Eu estudo até as 3 da tarde, depois nado duas horas e estudo violino mais duas horas por dia”, diz a moça. “Dá para fazer tudo, sim, é só dividir bem o tempo, focar naquilo que você quer.”

"Percebi que a música pode transformar a vida das pessoas"
GIULIA OLSSON, a menina que doou
US$ 10 mil em instrumentos para a Heliópolis

Em julho do ano passado, Giulia traçou um “plano de metas” sociais, seguido passo a passo. “Fiz um projeto dividido em duas partes. A primeira seria comprar os instrumentos. A segunda, visitar a instituição para dar aulas com os instrumentos durante as minhas férias”, diz a jovem. Giulia então fundou a ONG Notes for Hope (notesforhope.org). Fez folhetos de seu projeto para distribuir para as pessoas na rua, falou com professores e vizinhos, organizou brechós, lavou carros e economizou cachês de inúmeros concertos dos quais participou como violinista – sim, além de tudo ela toca profissionalmente. Perdeu as contas dos litros de limonada que vendeu para aplacar o calor dos outros e sua sede de caridade. “Em números não sei, mas foram muitas jarras, com certeza”, diz Giulia, entre risos. Em dez meses, juntou pouco mais de US$ 10 mil, numa respeitável média de US$ 1.000 por mês, sem ajuda financeira dos pais, de governos ou de empresas.

Enquanto levava seu projeto a cabo, Giulia pesquisava na internet uma instituição idônea e confiável. Chegou ao nome do Maestro Baccarelli, fundador do Instituto Baccarelli, que há 13 anos mantém uma escola de música para crianças carentes na maior favela de São Paulo, a de Heliópolis, na Zona Sul da cidade, sede da Sinfônica de Heliópolis. Giulia viu e ficou fascinada por Sinfônica Heliópolis e Arnaldo Cohen, documentário sobre o encontro da orquestra com o respeitado pianista. Entrou em contato com a instituição e foi recebida de ouvidos abertos. A boa ação tomou forma definitiva quando a mãe de Giulia, a brasileira Debora Olsson, veio ao Brasil conhecer de perto a escola, que atende mais de 600 jovens.

Invertendo a lógica de muitas leis de incentivo à cultura no Brasil, que financiam projetos privados com dinheiro público, Giulia transformou dinheiro privado em ação pública. Em junho, comprou 72 instrumentos de corda, entre violinos, violoncelos e viola, e conseguiu outros três, doados por amigas. Os instrumentos são especiais para a prática infantil. “Desde o começo queria trabalhar com crianças, para que elas aprendessem música ainda pequenas”, diz.

O projeto de Giulia chama a atenção não apenas pela rapidez com que foi executado, mas pela grandeza do gesto – numérica, inclusive. “Em geral as pessoas doam um instrumento herdado que está parado, dois instrumentos arrecadados. É difícil uma doação desse porte”, diz o maestro Roberto Tibiriçá, diretor artístico da Sinfônica de Heliópolis.

A retribuição do instituto para Giulia veio em forma de música. Ela foi convidada para participar de duas apresentações da Sinfônica de Heliópolis com o renomado violinista alemão Erik Shumann, na Sala São Paulo, em junho. Mas, para Giulia, o melhor reconhecimento veio das crianças com os instrumentos que doou. Durante as duas semanas que passou no Brasil, Giulia monitorou os ensaios de violino de 32 crianças, de 7 a 10 anos. Ensinou violino e inglês. “Foi emocionante, porque a única oportunidade que eles têm é com a música, e eles colocam todo o coração e a garra naquilo”, diz Giulia. Agora, ela quer estender seu trabalho para outros Estados: “Pensei em Pernambuco, que tem projetos legais, mas ainda estou vendo como fazer”. Giulia ainda não sabe se vai estudar música para se profissionalizar, mas tem uma certeza: “Quero continuar meu trabalho social, porque a sensação de ajudar é incrível”.


Fonte:http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI84033-15228,00-GAROTA+DOA+US+MIL+EM+INSTRUMENTOS.html


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