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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sobre a Pedagooogia 3000

Jorge Carvajal Posada

Diziam-me de minha filha na escola, que era uma criança bem especial, tanto que seu professor de alemão tirou-a da classe um dia por não suportá-la. Síndrome de Hiperatividade e Déficit de Atenção, diziam. E o psicólogo confirmou o diagnóstico apressado do professor. Mudamos de escola e do método, e tudo mudou. Da noite para o dia essa síndrome, tão temida como caluniada, desapareceu. O diagnóstico havia falhado e afortunadamente tambem seu prognóstico.

O doente era o sistema de educação, o que faltava era motivação, uma forma eufemística de dizer que essa escola não tinha mestres, só professores e técnicos. Um ensinamento sem amor não motiva e a motivação é o ingrediente essencial da atenção, da aprendizagem e da memória.

Se o que conheces não o sabes é porque não o saboreas; se suas palavras só repetem o que já dizem os livros, mas não tem o contexto significativo de tua própria alma, se o que dizes não ressoa em teu coração, possivelmente tua aula se converterá num lugar onde reinará o deficit de atenção. Certamente médicos e psicólogos te darão a razão quando avaliarem a situação. Porem, o que nos importa é a causa.
Estarão perdendo a motivação, se entendiando e sua atenção dispersa estará buscando o que na aula não encontram...

Liberar o potencial humano, educar para uma cultura onde se compartilha integrar todas as vertentes de nossa inteligência em uma inteligência adaptativa que nos permita a todos dar o que viemos dar de nossa vida... Não pode ser outro o proposito de uma nova Pedagogia, uma que convoque o melhor da cultura humana, representada nos recentes avanços da ciência e no suporte de culturas milenares.

É hora de unir as ciências humanas e as ciências da vida na dimensão de uma ciência espiritual que nos permita dar sentido à crise atual. Talvez necessitemos menos diagnósticos e prognósticos e mais compromisso com nossos filhos. Afinal de contas, eles são a sementes da terra, a colheita do futuro e a esperança de uma cultura de relações humanas em sintonia com a Pachamama.

Temos dado passos gigantes em termos de educação, é certo que a mudança quantitativa é inegável, melhoraram o salário, mas no processo não houve avanço qualitativo correspondente:

- Temos mais conhecimento, talvez tenhamos adiquirido novas técnicas e destrezas, mas no caminho temos renunciado a capacidade de criar nossas obras mais belas.

- Temos mais professores e menos mestres, mais doutores e menos sábios; sabemos mais de produção em série e muito menos de artezanatos, mais de peças renováveis concebidas para a competência e talvez mais ciência, mas muito menos da magia de fazer o que fazemos com consciência.

- Temos mais de todo o outro e muito menos de nós. Os sistemas massificados classificam de anormal a quem sai da curva da mediocridade. Educamos para a repetição, premiamos a memória e o automatismo, condenamos os estudantes a perder rapidamente sua vocação e os qualificamos para que somente aprendam a reproduzir modelos alheios. Quase todos os estudantes de medicina que um dia ingressaram em suas universidades cheios de vocação a terão perdido ao final de três anos de “Educação superior”.

As más notas, a deserção escolar e a violência, não são a enfermidade. São o sintoma inequívoco de um sistema de educação profundamente enfermo. Portanto, mais pressuposto, mais tecnologias, mais professores, mais coordenadores, mais aulas e mais classes de valores desvalorizados por um fundamentalismo do dogma, são como um curativo. A enfermidade de nosso sistema educativo é um profundo Déficit de Humanidade, uma perda da vocação pela vida. Educa-se para o êxito, para a competência, para o exame, mas não para o apaixonar-se pela vida.

E se a Pedagogia, mais que um acumulo de teorias e de técnicas, fosse uma estratégia humana para re-encantar a vida? E se pudesemos aprender ensinando, aprender aprendendo e assim ser, sendo único, o que somos e como somos, para experimentar a plenitude de ajudar-nos, de completar-nos? E se aprendêssemos a partir da humildade e da inocência do saber que não sabemos, para sabernos imersos finalmente em um conhecimento que nos envolva cheio de amor? E se assim, se unirem a cabeça e o coração em um projeto de viver, em que a compreenção no leve a um novo tipo de relação com a natureza em nós?

Nesse dia, o amor será nossa melhor medicina, e nossas medicinas levaram implícito o amor. Nesse dia, a pedagogia será também nossa terapêutica e a terapêutica será nossa melhor pedagogia. Nesse dia, não tão distante, a pedagogia convocará todas as nossas inteligências nessa via de sabedoria que vincula a Grande Cadeia da vida. Que esta Nova Pedagogia nos envolva na dimensão de uma nova cultura de relações humanas, em que a liberdade seja conseqüência da responsabilidade. Uma cultura no caminho da alma. Uma cultura da alma.

Estou convencido, querido leitor, que Pedagooogia 3000 de Noemi Palmal será parte deste caminho.

Jorge Carvajal Posada

Tradução: sandraferris@globo.com


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