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quarta-feira, 24 de abril de 2013
terça-feira, 23 de abril de 2013
Paralisia do Sono
Algumas pessoas relatam que, às vezes, sofrem uma paralisia
corporal ao se deitarem para dormir. Afirmam que, deitadas, perdem os
movimentos e a capacidade de falar, ficando com o corpo pesado e “duro”, preso
à cama. Então, dizem, ouvem vozes, escutam passos, vêem estranhas cenas ou
pessoas e de desesperam.
Como nossa cultura não é, infelizmente, amadurecida no campo
onírico e nem tampouco para o contato com o mundo do inconsciente, não somos
preparados para experiências desta natureza. Como resultado, não sabemos o que
fazer quando caímos na paralisia do sono, sendo tomados pelo medo.
Alguns experimentam intenso terror, supondo que estão
enlouquecendo ou prestes a morrer. Outros, supersticiosos, crêem que o “diabo”
os persegue e até que os sufoca.
O medo se deve ao desconhecimento. Na verdade, a paralisia
do sono corresponde a um estado não usual de consciência no qual atingimos
lucidamente o limiar entre a vigília e o sonho. Em outras palavras: nossa
consciência se encontra em um ponto limítrofe entre o mundo vígil e o mundo
onírico.
Obviamente, não estou me referindo à narcolepsia ou a
estados patológicos similares, nos quais a pessoa desfalece mantendo a
consciência em situações arriscadas como durante o trabalho ou no trânsito.
Refiro-me apenas à paralisia que algumas vezes enfrentamos durante estados de
relaxamento profundo, logo após nos deitarmos ou acordarmos pela manhã.
Não devemos confundir a paralisia do sono, que é inofensiva,
com narcolepsia, que é um distúrbio.
É importante diferenciar o patológico do inócuo. A
inofensiva paralisia analisada aqui surge quando nos acomodamos para relaxar,
dormir ou “tirar um cochilo”. Ocorre em situações facilitadoras do sono,
podendo aparecer na fase inicial ou final deste. Não se impõe contra a nossa vontade
em situações inadequadas ou de risco, como durante o ato de dirigir ou
trabalhar.
Esse estado limítrofe nos oferece a oportunidade de
experimentar um tipo especial d sonho: o sonho lúcido. Se, ao invés de nos
deixarmos tomar pelo medo, soubermos aproveitar a situação de imobilidade para
trabalhar com a imaginação, adentraremos conscientemente ao nosso mundo dos
sonhos.
Durante a paralisia do sono, estamos às portas do nosso
universo onírico. Em tal fase, podemos reverter o processo letárgico ou dar-lhe
continuidade.Se nos aterrorizarmos ante a impossibilidade de movimento e as
percepções alteradas, o reverteremos. Se nos mantivermos tranqüilos e
permitirmos que o processo natural do sono tenha continuidade, teremos a
experiência fantástica do sonho lúcido. É uma experiência cobiçada por muitos.
Nos sonhos normais, nunca percebemos que estamos sonhando.
Sempre acreditamos estar acordados: fugimos dos perigos, nos preocupamos em
resolver os problemas com os quais nos deparamos, tememos as reações das pessoas
e animais com os quais estamos sonhando, etc.
No sonho lúcido, esta falta de discernimento não existe. O
sonhador compreende que está sonhando e age de acordo com esta compreensão.
Durante a fase intermediária entre o sono e a vigília,
começamos a ter percepções alteradas, os primeiros contatos imediatos com o
mundo fantástico. Os nossos pensamentos adquirem alto grau de nitidez e podem
ser vistos e ouvidos como se pertencessem ao mundo exterior. As vozes, sons,
imagens e toques que percebemos são imaginais, isto é, são formas mentais. Não
obstante, seu impacto realístico e nitidez (numinosidade) são intensos e
espantam as pessoas que ainda não estão familiarizadas com isso. Nossos medos,
desejos, anelos, frustrações, etc, se corporificam em imagens mentais cujas
formas apresentam afinidade com o teor dos sentimentos que as geraram.
Aqueles que almejam a experiência do sonho lúcido procuram
induzir a paralisia do sono por meio do relaxamento consciente. Ao atingi-la,
saltam para o outro lado de suas existências.
Caso tenhamos interesse em aproveitar a paralisia corporal
para obtermos uma experiência onírica consciente, podemos nos valer de um
procedimento muito simples: uma vez atingida a imobilidade, projetamos uma
imagem mental qualquer que nos agrade procurando vivenciá-la lucidamente, ou
seja, nos empenhamos em interagir com a mesma sem perder a recordação de que é
mental e onírica. Então, logo nos vemos dentro de um sonho lúcido.
Poderíamos dizer, em outros termos, que colaboramos
conscientemente com o processo natural do sono-sonho ao invés de detê-lo pelo
medo. Após o estado de paralisia corporal vem o estado de sonho propriamente
dito. Se vivenciarmos lucidamente as imagens mentais que se formam nesta fase
inicial do sonho, logo as mesmas se apresentam ante a nossa consciência como se
fossem tridimensionais.
Fui procurado certa vez por um rapaz que era freqüentemente
jogado na imobilidade contra a sua vontade. Havia apelado para médios,
sacerdotes e orações para resolver o “problema”. Não obteve sucesso algum. A
paralisia persistia contra todos os seus esforços e os de sua mãe em
suprimi-la.
O jovem estava muito preocupado. Havia sido educado na
religião cristã e acreditava que as trevas fossem povoadas por entidades
infernais. Temia o ataque de algum demônio na escuridão da noite. Sua mãe
estava, na época, tentando contatar um exorcista.
Imaginemos por um instante seu desespero: paralisado na
cama, no escuro, ouvindo vozes estranhas com intenso impacto realístico e,
ainda por cima, sentido-se prestes a ser atacado por um demônio sem poder
mover-se ou fugir.
Instruí o rapaz a respeito da paralisia e indiquei-lhe
alguns textos para leitura. Fizemos juntos uma análise de suas crenças
religiosas, do teor das percepções alteradas que experimentava, da natureza dos
sonhos, do mundo inconsciente e do que a paralisia significava em outras
culturas diferentes daquela em que ele vivia. Ele logo ficou tranqüilizado e
feliz. Começou a aproveitar a situação de imobilidade para ter sonhos lúcidos
e, hoje, chega a se lamentar quando não a atinge. O “problema” se transformou
em algo desejável ao encontrar seu sentido e seu curso.
A paralisia do sono perde seu caráter terrificante quando
permitimos que cumpra sua função propiciadora de experiências transcendentes.
Muitas vezes, a paralisia do sono é denominada “pesadelo”, o
que nem sempre é correto. Um pesadelo é um sonho terrível, com monstros,
assassinatos, torturas, sangue, cadáveres, etc. A paralisia é a imobilidade do
corpo, a incapacidade de mover-se e de se levantar. É acompanhada por
alucinações e, às vezes, pro uma pseudo-asfixia.
A pessoa corretamente instruída a respeito das etapas de
instalação dos estados oníricos pode reagir com naturalidade ante a imobilidade
corporal, sem desespero. Foi esse o caso de um afeiçoado aos sonhos lúcidos que
estudou comigo.
O rapaz estava deitado e profundamente relaxado. De repente,
sentiu que não podia se mover ou falar:
“Eu tentava falar, mas a voz não saía. Tentava levantar, mas
não conseguia. Eu vi que já estava começando a dormir”.
Havia atingido paralisia e algumas percepções alteradas o
assaltaram:
“Ouvi o som de passos de alguém subindo pela escada. A
pessoa chegou e abriu a porta sem virar a chave. Pensei: Eu tranquei a porta.
Como a pessoa conseguiu abrir?”
“Depois eu ouvi, na sala, o som de um riacho, de água…
Riacho dentro da minha sala? Que absurdo! Já são as cenas do sonho”…
Em seguida, voluntária e conscientemente, o estudante se
imagina em pé, diante da porta. A imagem onírica da porta e de sua pessoa em pé
se concretizam ante sua consciência. Ele está lá, frente à porta, vivenciando a
cena com o mesmo impacto realístico que teria se pertencesse ao mundo vígil.
Não obstante, sabia que seu corpo dormia e que experimentava um estado de
realidade incomum:
“Como sabia que estava dormindo concluí que só podia estar
dentro de um sonho e resolvi aproveitar para brincar”.
“Abri a porta e saí. Ao invés de descer a escada e ir para a
rua, para fora, eu fui para o quintal. No quintal, sabendo que estava em um
sonho tentei flutuar. Não consegui”.
“Tentei mais uma vez, não consegui de novo. Eu estava
eufórico pela sensação de poder voar então resolvi me acalmar”.
Tentei, com toda a calma e lentidão, flutuar levemente e bem
baixo. Consegui! Flutuei até a laje da minha casa. Olhei ao redor. Tudo estava
igual. Olhei o céu: tinha nuvens e, mesmo assim, era um sonho! Eu sabia que
estava dormindo”.
“Então, agora confiante, corri e dei um grande salto do alto
da laje, sem medo. Comecei a subir com uma velocidade enorme! Um vento bem real
começou a soprar contra o meu rosto, que nem quando a gente anda de carro
rápido e põe a cara prá fora”.
“O vento começou a ficar cada vez mais forte e eu me
assustei. Então acordei”.
Neste caso, a paralisia possuía um significado especial para
o sonhador, que a via como um indicador de que o estado onírico se aproximava.
Era o sinal de que iniciaria uma viagem através da noite, de que a hora de
passear pelo mundo interior havia chegado.
Além do mundo usual da vigília há um outro mundo: o dos
sonhos.É um mundo que pertence à dimensão do inconsciente, sendo constituído
por imaginações espontâneas, anelos, desejos, recordações, traumas… Na fase da
paralisia, estamos às portas desse estado de realidade incomum. As culturas
antigas, primitivas e orientais desenvolveram, ao longo da história, métodos
para colocar a consciência em contato direto e seguro com esse mundo
misteriosos.
O mundo dos sonhos é real à sua própria maneira,
infelizmente, nós, ocidentais modernos, somos ainda muito atrasados nesse
campo. Preferimos evitar a espinhosa questão relacionada com a concretude da
psique a encarar a crua realidade do mundo onírico.
segunda-feira, 22 de abril de 2013
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